
“Francamente mal”. É assim que o antigo presidente da Câmara de Esposende, João Cepa, classifica o processo de gestão do dossier “Monumento ao Bombeiro” que foi inaugurado no passado dia 19 de agosto.
Para o ex-autarca não está em causa o monumento, homenagem que segundo João Cepa “será sempre insuficiente”.
“Todos os gestos de gratidão e todas as homenagens que se possam prestar aos bombeiros portugueses serão sempre insuficientes para lhes retribuir tudo aquilo que fazem por nós”, frisa.
No entanto João Cepa aponta “graves” falhas em todo o processo e chega mesmo a classificar a gestão do processo como “típica urgência de um período pré-eleitoral”.
“A Câmara Municipal esteve francamente mal. Esteve mal quando deixou de fora do processo a corporação de Bombeiros de Fão, não lhes pedindo opinião sobre o tipo de monumento e sobre a sua localização. Esteve mal ao escolher o local para a colocação do monumento. Esteve mal ao escolher o tipo de monumento a erigir”, aponta o João Cepa no blogue pessoal “joaocepa.blogspot.com”.
Para o antigo presidente de câmara teria sido “tudo muito mais fácil, simples e pacífico, se não tivesse havido pressa em mostrar serviço e se tivesse sido promovida uma participação e discussão mais alargada sobre o assunto”.
Quanto às prioridades, João Cepa questiona se não seria mais importante a criação das Equipas de Intervenção Permanente. “Uma necessidade verdadeiramente premente. Sei bem, aliás, que esta é uma opinião partilhada por muita gente ligada às corporações concelhias”, refere o ex-edil.
Entrando no campo do local escolhido, amplamente criticado em Esposende, João Cepa considera também uma “escolha infeliz”.
“A conclusão a que se chega é que nem mesmo o facto de se ter percebido ao longo dos anos, com a experiência do Monumento ao Homem do Mar, que o Largo Rodrigues Sampaio não é o melhor espaço para se colocar esculturas/monumentos, parece ter sido suficiente para levar os responsáveis municipais a estudarem outras alternativas. Pessoalmente, acho que o monumento deveria ter sido colocado no jardim à entrada da Avenida Marginal, junto à rotunda da Solidal. Para além da visibilidade que teria por ficar naquela que é hoje a principal entrada na cidade, ficaria de certa forma equidistante dos quartéis das duas corporações concelhias, o que não deixaria de ser uma opção com um certo simbolismo”, refere João Cepa.
Monumento devia também ser homenagem ao dia mais trágico para os bombeiros do concelho de Esposende
Apesar de admitir que “gostos não se discutem”, e não querem colocar em causa os autores do monumento, João Cepa afirma que “o conceito poderia ter sido um pouco diferente, cabendo à Câmara Municipal a responsabilidade de dar orientações nesse sentido”.
“O dia 27 de Setembro de 2009 ficou registado na história do concelho como o dia mais trágico para os bombeiros concelhios: faleceram vítimas de acidente de viação três bombeiros da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Esposende. O desaparecimento do Paulo Lachado, do Pedro Torres e do Pedro Sousa provocou uma grande consternação em toda a população e criou uma enorme união em torno dos bombeiros, no fundo aquilo que deve representar um monumento a eles dedicado”, destaca o ex-autarca, que defende que o monumento devia ter sido inspirado nos três bombeiros falecidos.
“Apesar de lhes ter sido atribuída em 2010, a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal, este teria sido o momento ideal para lhes prestar a verdadeira homenagem, ao criar-se um monumento ao bombeiro inspirado nestes três homens. Seria uma espécie de dois em um: homenagear todos os bombeiros através da figura do Paulo, do Pedrito e do Pedro.Estou certo que um monumento com dimensão, inspirado nestes três bombeiros e colocado num local que não estivesse rodeado de painéis publicitários, teria com certeza a aprovação da esmagadora maioria da população”, afirma.